>
>
Ano novo, a mesma vida?

Ano novo, a mesma vida?

Por Beatriz Lourenço, médica psiquiatra e vice-presidente da ManifestaMente
Médica psiquiatra e vice-presidente da ManifestaMente

A passagem para um novo ano é habitualmente um momento de reflexão, no qual fazemos um balanço do ano que passou e pensamos naquilo que gostaríamos que acontecesse e que mudasse no ano que se avizinha – sempre com o firme desejo de que o próximo ano seja melhor do que o que já passou!

Celebrar as voltas que o mundo dá ao sol, é uma das maneiras de percebermos que o tempo passa e termos oportunidade de refletir sobre as nossas vidas e os rumos que tomam. 2020 foi um ano, no mínimo, especial. Trouxe-nos muitas coisas que não pedimos e mostrou-nos um mundo que desconhecíamos ser capazes de nele viver. Há a tentação irresistível de pensar que esta passagem de ano vai, como que por magia, mudar tudo, trazer de facto uma vida nova, sem Covid e com a normalidade que desejamos há muito. Contudo, sabemos que esta passagem de ano não representará uma vida nova para a pandemia. Continuaremos a ter que tomar as devidas precauções de modo a evitar a propagação do vírus, nomeadamente o distanciamento físico, a utilização de máscara e a lavagem frequente das mãos. A vacina já começou a ser distribuída e isso é sem dúvida uma boa notícia, mas ainda demorará a vir a tão esperada “vida nova”.
É expectável que um novo período de confinamento traga, novamente, os mesmos desafios que verificámos em março do ano passado. O teletrabalho, em particular, pode levar a um aumento do isolamento social e interferir com as rotinas familiares. A dificuldade em manter horários definidos (de trabalho e não-trabalho) ao longo do dia e a necessidade de recorrer ao multitasking pode, por si só, aumentar os níveis de cansaço, irritabilidade e ansiedade. Sabemos que o teletrabalho é uma solução que permite a manutenção da atividade laboral com o mínimo de contactos sociais, mas não está isenta de desafios para a saúde mental dos trabalhadores.
O facto de já termos passado por tudo isto, faz com que existam certamente algumas lições que foram aprendidas, nomeadamente no que diz respeito a estratégias de gestão de stresse, o que pode atenuar o impacto da pandemia a nível da saúde mental nesta nova vaga. Por outro lado, o facto da pandemia se arrastar há tanto tempo, assim como as restrições sociais, pode levar a um cansaço e desgaste da população e consequentemente a uma maior dificuldade em lidar com este desafio. O novo confinamento terá impacto certamente, mas a magnitude é difícil de prever. A duração das medidas de confinamento é provavelmente um dos fatores mais decisivos.
Neste novo ano, será particularmente importante relembrarmos a nossa “receita” de saúde mental e praticá-la. Se quem nos lê ainda não sabe o que queremos dizer com “receita” de saúde mental, acrescentamos que esta é uma boa altura para consultar o Kit Básico de Saúde Mental, no nosso sítio, no seguinte endereço: www.manifestamente.org. Reforçando a ideia de que a saúde mental faz parte da saúde em geral, será fundamental ter atenção a alimentação, praticar exercício físico regular, respeitar a necessidade de descanso, manter a ligação às pessoas próximas e à nossa comunidade e ainda praticar uma postura adaptativa às adversidades que surgem na nossa vida. Compreender a importância da saúde mental e torná-la uma prioridade é sem dúvida uma boa estratégia! Existem ainda certamente mudanças internas que nos podemos e devemos propor a fazer, que não estão dependentes do estado da pandemia. Cada um saberá aquilo que lhe faz mais sentido e no que deseja investir neste novo ano.

A Manifestamente deseja a todos um excelente ano de 2021 e à semelhança do apelo da Direção Geral da Saúde para todos nós sermos um agente de saúde pública, também todos nós temos um papel a desempenhar em termos de saúde mental. Que em 2021, todos sejamos um agente de saúde mental!
Juntos pela Saúde Mental de todos nós.

Janeiro 1, 2021
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email
Share on whatsapp
Campanha
Apoio
Campanha