INTRODUÇÃO
Construir um ser humano, um nós, é um trabalho que não dá férias nem concede descanso: haverá paredes frágeis, cálculos malfeitos, rachaduras. Quem sabe um pedaço que vai desabar? Mas se abrirão também janelas para a paisagem e varandas para o sol (Lya Luft, Perdas e Ganhos, 2003).
Quando se fala na educação dos filhos, muitos pais questionam: o correto seria repetir a mesma educação recebida? Ou seria deixar os filhos descobrirem por conta própria o certo e o errado e construírem o seu caminho?
Penso que primeiramente seja necessário considerar o que entende por “educar”. Educar não é tão somente falar, admoestar, etc. O ato de educar é algo mais profundo e nem sempre se vale das palavras. Normalmente as coisas mais importantes que aprendemos não foram faladas mas testemunhadas, vividas, experimentadas…
Principalmente no que toca aos valores, o exemplo dos pais é essencial. As coisas mais importantes que trazemos na mente e no coração foram-nos ensinadas pelo exemplo.
Educar é um ofício que deve ser exercido com paixão e arte.
E a arte de educar deve ser uma união de forças, saberes e disciplina, sedimentados em afetos, crescimento e motivação, entre a família e a escola.
ESCOLA
A Escola deve ter como objetivo o apoio e potenciação da ação educativa das famílias e, por sua vez, a família deve procurar envolver-se no projeto educativo dos seus filhos o que ao mesmo tempo permite conhecer melhor o jovem de forma a atuar preventivamente nos problemas manifestados pelos mesmos (Abreu, 2011). Contudo, os Pais devem considerar a Escola como uma fonte de ajuda à formação dos filhos e não como algo que os substitui (Ochoa & Ferrer, 2009 cit in Abreu, 2011). Para além disso, a importância (ou a falta dela) que as famílias dão à Escola enquanto meio de transmissão de conhecimento vai mediar e influenciar a motivação dos jovens para estudar. Assim, há maior probabilidade de os alunos progredirem e terem sucesso escolar se as famílias valorizarem a Escola.
No ambiente de Escola, a relevância dada às necessidades cognitivas, psicológicas, sociais e culturais dos jovens é realizado de uma maneira mais estruturada e pedagógica que no ambiente de casa. Quando a Família e a Escola mantêm boas relações, as condições para um melhor aprendizado e desenvolvimento dos alunos podem ser complementares. Não só os Pais devem reconhecer a importância da sua intervenção na Escola, mas também a Escola o deve reconhecer. Os Pais devem participar ativamente na educação de seus filhos, tanto em casa como na Escola.
Uma outra perspetiva está relacionada com as representações que os alunos trazem para cada ambiente. Por um lado a criança/jovem traz para a Escola as vivências em Família e por outro lado, em casa demostram a informação retida na Escola, quer em contexto de sala de aula, quer em contexto de lazer (Marques, 2010). O mesmo autor salienta a importância para a comunicação direta entre a Família e a Escola para que não seja comprometida a informação verídica.
FAMÍLIA
O processo de desenvolvimento dos sujeitos afeta o processo de desenvolvimento da família, mas cada pessoa recebe também da família que a influencia a sua cultura, objetivos, princípios, valores, tarefas, ações, comportamentos e formas de pensar. Se estas influências recíprocas resultarem é estabelecido um equilíbrio dinâmico. A cultura, hábitos e a forma de atuar das famílias é uma manifestação viva, evolutiva e vivenciada pelas pessoas que a ela pertencem e leva a um amadurecimento ou a uma degeneração.
“Os principais objetivos do Aconselhamento Parental têm a ver com o fornecimento de apoio psicológico, orientação e informação prática aos pais das crianças, sobre as seguintes temáticas: melhorar a interação com a criança; melhorar as práticas educativas parentais; organizar o envolvimento para facilitar as aprendizagens da criança e, resolver problemas pessoais ou familiares” (Coutinho, 2000, p. 77). Assim, “os programas de aconselhamento de pais, embora tenham, na sua maioria, uma vertente educativa, estão muito ligados ao apoio emocional, muitas vezes numa perspectiva psicoterapêutica” (Barros, 1992a; Hornby, 1992b cit por Coutinho, 2000, p. 77) e podem constituir uma resposta para as famílias que precisam de orientação a vários níveis.
As diferentes visões culturais ao longo da história têm vindo a refletir alterações nos próprios padrões educativos e de prestações de cuidados à criança, tal como, a identificação das suas necessidades e a forma adequada de satisfazê-las. A estes factos não se alheiam aspetos relacionados com crenças e valores das diferentes sociedades, e dos papéis e normas atribuídos e esperados para cada elemento.
“A partir do final dos anos cinquenta assiste-se, com efeito à proliferação rápida de intervenções clínicas (e/ou de aconselhamento) de orientação comportamental destinadas ao treino de pais” (Allen et al.,cit por Barros, 1990, p. 101). O aconselhamento surge pelo
“reconhecimento da necessidade de se proceder à modificação do comportamento no contexto onde ocorre” (Ross, 1972 cit por Barros, 1990, p. 101).
Os pais ocupam o lugar de “reforçadores das contingências de ações concretas da criança” (Barros, 1990, p. 101). Nos anos setenta e oitenta iniciou-se uma intervenção que se pode designar de “comportamental-cognitiva visando modificar, sobretudo, atitudes parentais e estilos educativos dos adultos” (Blechman, 1981, cit por Barros, 1990, p. 102).
Atualmente, existem respostas ao nível do aconselhamento parental e da terapia familiar que podem potenciar as ferramentas educativas deste sistema de educação informal, desta forma constituir uma benesse para trabalhar as competências parentais e reduzir o risco (como são disto exemplo o CAFAP e o GAAF).
CAFAP
Os CAFAP podem ser definidos “como uma resposta social, desenvolvida através de um serviço, vocacionada para o estudo e prevenção de situações de risco social e para o apoio a crianças e jovens em situação de perigo e suas famílias, concretizado na sua comunidade, através de equipas multidisciplinares. E, apresentam os seguintes objetivos: promover o estudo e a avaliação de famílias em risco psicossocial; prevenir situações de perigo; evitar ruturas que possam levar à institucionalização; assegurar a satisfação das necessidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais das crianças e jovens; reforçar as competências pessoais dos intervenientes no sistema familiar das crianças e jovens através de uma abordagem integrada dos recursos da comunidade; promover a mediação entre a família e os serviços envolvidos para facilitar a comunicação, potenciar contactos e promover a solução de eventuais dificuldades; contribuir para a autonomia das famílias” (Direção Geral da Segurança Social, da Família e da Criança [DGSSFC], 2006).
Os programas de educação parental e treino de competências parentais ou familiares partilham muitos dos princípios da terapia multifamiliar, com maior ênfase ora no ensino e treino de competências ora na partilha de experiências e no suporte emocional e social, estas intervenções têm efeitos positivos ao nível da redução do isolamento das famílias, stresse parental e risco infantil.
Os problemas são resolvidos por ensaio e erro em todas as famílias. A natureza das soluções vai variar em diferentes ocasiões (Minunchin & Fishman, 1990). Quando a família sente dificuldades nesta área procura ajuda junto das entidades que existem, precisamente, para ajudar.
Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF)
O Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF) tem como principal objetivo contribuir para o desenvolvimento harmonioso dos adolescentes e jovens nas suas diferentes dimensões: individual, familiar, escolar e social. O GAAF presta um serviço de apoio aos alunos e respetivas famílias, corpo docente e não docente e a toda a comunidade escolar, funcionando em estreita articulação com os serviços e instituições da comunidade envolvente.
É um espaço de exteriorização de conflito/afetos/emoções pessoais, relacionais, emocionais e familiares que garante a total confidencialidade aos alunos e às suas famílias.
Funciona na Escola como um serviço de apoio aos alunos e às suas famílias, disponibilizado em várias vertentes que contribuem para o desenvolvimento integral do jovem e sua integração socioprofissional. Neste âmbito, inserem-se o Serviço de Psicologia e Orientação; apoio à Educação Especial; a Ação Tutorial; a Mediação Educativa; e o Apoio e Intervenção com a família.
Este projeto tem como finalidade contribuir para o crescimento harmonioso e global dos jovens, nas suas diferentes dimensões (individual, familiar, escolar e social), com o intuito de formar cidadãos livres, responsáveis, solidários e autónomos. Pretende atuar com base no princípio de que se previnem as consequências dos problemas agindo sobre as suas causas, através de uma relação de confiança e empatia estabelecida com os alunos e pais/encarregados de educação.
RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA
A participação da família na escola está, sem dúvida, associada a um desenvolvimento do rendimento académico, a uma melhor adaptação escolar (Bastiani, 1996, cit in Abreu 2011), favorecendo, igualmente, as competências interpessoais e o comportamento das crianças e jovens, quer no contexto escolar, quer em casa (Ochoa & Ferrer, 2009 cit in Abreu 2011). A escola e a família exercem uma função socializadora que facilita a integração dos seus membros nos grupos sociais em que vivem. Enquanto na família prevalece um estilo de educação informal, a escola constitui-se como o local onde tem lugar a educação formal, com base num processo de ensino – aprendizagem entre o professor e o aluno (Pinto, 1996, cit in Abreu, 2011). Contudo, esta relação é fortemente condicionada pela educação dita informal recebida pela família (Abreu, 2011).
Gonçalves (2013) refere que a Escola e a Família não podem ser encaradas como contextos de educação independentes pois ambas são agentes de socialização que se completam mutuamente no desenvolvimento do indivíduo permitindo a construção da sua identidade. Segundo Alarcão (2006) os Pais devem procurar a colaboração com a escola e até interessar-se ativamente na vida da Escola, pois ambos têm a obrigação de educar a criança e ajudá-la a desenvolver-se como ser biopsicossocial. Um relacionamento mais próximo com a Escola proporciona uma troca de experiências para ambos, sobretudo benefícios para os alunos a nível
cognitivo, afetivo, social e da personalidade (Gonçalves, 2010). Como tal, as suas ações devem estar voltadas no mesmo sentido.
Estas duas entidades (CAFAP e GAAF) contribuem de igual modo para o crescimento harmonioso e global dos jovens, nas suas diferentes dimensões, com o intuito de formar cidadãos livres, responsáveis, solidários e autónomos. Pretendem atuar com base no princípio de que se previnem as consequências dos problemas agindo sobre as suas causas, através de uma relação de confiança e empatia estabelecida com os alunos e pais/encarregados de educação.
Por conseguinte apresentam-se como ferramentas fundamentais para a melhoria da dinâmica escola-família, e consequentemente, para aumentar o bem-estar das crianças e jovens que a elas recorrem.
Abreu, J. (2011). Reflexões em torno do conceito de famílias multiproblemáticas: a visão do contexto escolar e dos professores sobre a crescente problematização da família e suas implicações. (Dissertação de mestrado). Universidade do Minho.
Alarcão, M. (2006). Família multiproblemática ou multiassistida (3ª Ed). (Des)equilíblios familiares (pp. 317-336). Coimbra: Quarteto.
Barros, L. (1990). Construção e dialéctica em investigação psicoterapêutica: Aconselhamento parental. Psychologica, 3, pp. 101-108.
Coutinho, M. T. (2000). Intervenção Precoce e Formação Parental. Revista de Educação Especial e Reabilitação, 7 (2), 71-84.
Gonçalves E. (2010). Envolvimento parental nos trajetos escolares dos filhos das escolas integradas e segmentadas. A influência sobre os resultados escolares dos alunos (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de Lisboa.
Marques, A. (2010). Crenças parentais sobre a punição física e a identificação dos problemas comportamentais e de adaptação social das crianças em idade pré-escolar (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Coimbra
Minuchin, S. & Fishman, H. (1990). Técnicas de terapia familiar. Porto Alegre: Artes médicas, pp. 22-36, 58-71.