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Importância do exercício físico no envelhecimento activo

Importância do exercício físico no envelhecimento activo

Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (CIAFEL-FADEUP)

O envelhecimento na Europa e no mundo é um desafio marcante para o novo século. Nos últimos anos, o número de idosos cresceu significativamente, atingindo, nos dias actuais, um contingente nunca visto. Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a População [1], em 1950, havia cerca de 204 milhões de idosos no mundo. Em 1998, quase cinco décadas depois, este número já alcançava 579 milhões de pessoas e em 2000 estava já nos 605 milhões. As estimativas do número de pessoas idosas para 2025 e 2050, apontam para um contingente de, aproximadamente, 1,2 e 1,9 biliões de pessoas respectivamente. Todavia, embora o aumento da esperança média de vida se constitua como um aspecto positivo, o facto é que esta tendência se baseia mais em factores de natureza quantitativa e não qualitativa. Ou seja, apesar de todos os esforços médicos e científicos para prolongar os anos de vida dos sujeitos idosos, este aumento da longevidade nem sempre se faz acompanhar por uma vida salutar, autónoma e com qualidade. Infelizmente o envelhecimento está, na generalidade dos casos, associado a um aumento na ocorrência de patologias crónico-degenerativas [2].

Tais reflexos do envelhecimento populacional requerem medidas, iniciativas e intervenções, no sentido de melhorar a qualidade de vida dos idosos e assegurar a sua integração progressiva e equilibrada na sociedade. Deste modo, não é de estranhar o crescente interesse, particularmente nas últimas décadas, que se tem vindo a observar por parte de investigadores de diferentes ramos do conhecimento pelo bem-estar, saúde e qualidade de vida dos idosos.?Entre outros, a actividade física regular tem sido indicada como um coadjuvante importante no sentido de diminuir a degeneração progressiva associada ao envelhecimento.

Todavia, apesar dos reconhecidos benefícios, os comportamentos tipicamente associados aos idosos referem-se à passividade e imobilidade, com reduzida actividade física, criando determinado tipo de padrões e estereótipos que determinam, frequentemente, a forma de agir deste extracto populacional. Este sedentarismo dos idosos é, na generalidade dos casos, mais o resultado de imposições sociais e culturais do que uma incapacidade funcional da sua sustentação [3]. De facto, a senescência associada ao declínio das diversas funções e órgãos, não deve ser atribuída exclusivamente ao envelhecimento per si, mas fundamentalmente à inactividade física e ao desuso [3].

Entre outras, a inactividade física incontestavelmente contribui, quer para o maior risco de desenvolvimento das doenças cardiovasculares (DCV), sendo o risco de desenvolver uma DCV cerca de 1,5 vezes maior em pessoas com baixos níveis de actividade física [4], quer para um agravamento da incapacidade funcional observada na generalidade dos idosos [3].

Assim, se, por um lado, a inactividade é um importante factor de risco para o desenvolvimento de DCV e perda de funcionalidade, pelo contrário, o aumento da actividade física, entendida não apenas no seu aspecto formal e estruturado mas também não-formal, tem reflexos determinantes na diminuição dos efeitos deletérios do envelhecimento dentro dos vários domínios físico, psicológico e social [5]. Adicionalmente, são notórios os efeitos do exercício físico na melhoria da composição corporal e consequentemente na redução de factores de risco das diferentes patologias características da sociedade contemporânea [6].

Ao longo dos anos, um número crescente de estudos tem tentado analisar a potencial influência do exercício físico na idade biológica, capacidade funcional e saúde do idoso (para refs. ver [7]). Por exemplo, diferentes estudos têm demonstrado que o declínio físico e funcional associado ao envelhecimento pode, mesmo em sujeitos com idade extrema, ser revertido através do exercício físico. Para além disso, sabe-se também que a prática de exercício físico está associada à redução da incidência de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes tipo II, neoplasia do intestino, bem como, a estados de ansiedade e depressão [8]. A prática regular de actividade física tem sido relacionada com o aumento do conteúdo mineral ósseo e com a redução do risco de quedas e fracturas osteoporóticas [9]. Assim, um aumento na actividade física formal e não formal pode vir a ser uma estratégia preventiva efectiva, tanto para o indivíduo como para a sociedade, sendo uma forma de melhorar a saúde pública [10].

Para que os idosos iniciem e mantenham a sua participação em actividades físicas é necessário criar actividades que lhes propiciem o bem-estar, o que pressupõe a adequação à sua condição de idoso. Não existe idade para aprender novos movimentos, sendo apenas necessário adaptar o exercício físico às características e possibilidades de cada um, ao seu grau de patologia, mobilidade e autonomia.

  1. ONU, World population prospects:The 2006 revision. , 2006, United Nations Data.
  2. Bautmans, I., M. Lambert, and T. Mets, The Six-minute Walk test in Community Dwelling Elderly: influence of health status. BioMed Central Geriatrics, 2004. 4(6): p. 1-9.
  3. Spirduso, W .W ., K.L. Francis, and P .G. MacRae, Physical Dimensions of Aging2005, Champaign: Human Kinetics.
  4. Byberg, L., et al., Changes in physical activity are associated with changes in metabolic cardiovascular risk factors. Diabetologia, 2001. 44(12): p. 2134-9.
  5. Andrews, G.R., Promoting health and function in an ageing population. BMJ, 2001. 322: p. 728-729.
  6. van der Bij, A.K., M.G.H. Laurent, and M. Wensing, Effectiveness of physical activity interventions for older adults: a review. Am J Preventive Med, 2002. 22(2): p. 120-33.
  7. Andrews, G.R., Promoting health and function in an ageing population. BMJ, 2001. 322: p. 728-729.
  8. ACSM, A.C.S.M., Physical Activity Guidelines for Americans. 2008.
  9. Kohrt, W.M., et al., American College of Sports Medicine Position Stand: physical activity and bone health. Med Sci Sports Exerc, 2004. 36: p. 1985- ?1996.
  10. Simpson, M.E., et al., Walking Trends among U.S. Adults: the behavioral risk ?factors surveillance system, 1987-2000. American Journal of Preventive Medicine, 2003. 25(2): p. 95-100.
Julho 10, 2012
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